A Encenadora




- PERFIL -


Nome: Maria de Lurdes Gual

Idade: 40 anos


Profissão: Professora de Português


Licenciatura: Ensino de Português e Francês


Naturalidade: São João da Madeira


Obra(s) preferida(s) de Eça de Queirós: O Crime do Padre Amaro


Experiência em teatro: Escreve guiões e encena o grupo de teatro da Escola Secundária Serafim Leite.

O grupo


















> Os ensaios, aqui.


A tradição da ESSL


A escola Secundária Serafim Leite tem já uma tradição em teatro... desde há doze anos para cá que todos os anos vai à cena uma peça escrita e encenada pela professora de português Lurdes Gual. O gosto desta professora por teatro é já antigo e remonta à sua adolescência, quando fazia pequenas representações juntamente com as suas colegas de escola. A este gosto juntou-se o facto de ter começado a leccionar português: peças como "O Auto da barca do Inferno", "Falar verdade a mentir" e "Frei Luís de Sousa" fazem parte do programa desta disciplina em diferentes anos de escolaridade e, por isso, esta amante do teatro complementa o estudo das referidas peças com pequenas dramatizações no contexto de sala de aula.

 

Alargar horizontes


A ideia de realizar uma peça de teatro para toda a comunidade educativa, transpondo as paredes da sala de aula, surgiu no ano lectivo de 1996/1997: uma vontade mútua entre alunos e professora acabou por levar à cena "O Auto da Barca do Inferno", de Almeida Garrett, na altura em que os alunos participantes estavam no 9º ano de escolaridade. Esta peça, realizada com reduzidos recursos, foi apresentada no pavilhão gimnodesportivo da escola. Para a professora Lurdes Gual, esta foi uma experiência muito positiva, mesmo tendo havido sérios problemas a nível da acústica. O ano seguinte foi um ano de paragem, e, dois anos depois da primeira apresentação pública, foi representada uma peça escrita em conjunto com os alunos - "O Dia do Juízo Final" -, na qual se fazia uma crítica social muito ao estilo Garrettiano.  Foi exibida, desta vez, numa sala de aula, de forma a evitar problemas de som. Outras peças, tais como "Uma Televisão Portuguesa Com Certeza", que satirizava a televisão da altura, e "O Sonho de Uma Noite de Verão" de William Sheakspeare, fazem parte do historial deste grupo.

Um passo à frente


 "A Cleópatra", apresentada no ano seguinte, pode ser considerada como um passo à frente na produção de teatro na Escola Secundária Serafim Leite. O apoio financeiro da Câmara Municipal de São João da Madeira permitiu à encenadora conceber figurinos apropriados com uma componente visual mais apelativa. Cinquenta e oito alunos participaram nesta peça, cuja história aborda a vida de uma das mais importantes mulheres do Egipto. Nesta representação, foi dado o primeiro “beijo teatral”. Para a maioria dos actores, este seria o seu último ano na secundária n.º 1, o que não impediu a três deles de continuarem a sua carreira na representação. Dois destes, Bernardo de Almeida e Renata Azevedo, licenciaram-se em Teatro pela Escola Superior de Teatro e Cinema. 


A mudança

 O grupo de alunos que mantinha no activo o teatro da Serafim Leite tinha-se, portanto, desfeito. Consciente da importância de manter o teatro vivo nesta escola, a professora Lurdes Gual lança o desafio de formar um novo grupo a uma turma sua que estava no nono ano de escolaridade. Nesse mesmo ano, a encenadora escreve a peça "Amores Eternos", que conta as histórias dos pares amorosos que dominaram o Mundo – tais como Adão e Eva, Romeu e Julieta, entre outros.

 Com a mudança de ciclo, no ano seguinte, o grupo altera-se, mas mantém-se praticamente constante nos dois anos seguintes. Foram levadas à cena as peças "Glamour", em que a acção se passa na época áurea da Broadway; "A Jóia do Pacífico", que fala sobre a civilização do Hawaii; e "Um Pedaço de Céu", que retrata o problema das mulheres na Índia durante o período do Imperialismo Britânico. Esta última fez parte do Primeiro Festival de Teatro de São Joao da Madeira.

O Voo da Garça


 Depois da peça "Um Pedaço de Céu" ter aberto o Primeiro Festival de Teatro de São João da Madeira, foi a vez de "O Voo da Garça" participar no Segundo Festival. Com um grupo de actores renovados (apenas um elemento permaneceu do grupo anterior) e a maioria destes escolhida por “casting”, o palco do auditório dos Paços da Cultura conheceu a história da professora Clara Medina, “uma jovem sedenta de conhecimento” que priva, em Paris, com um homem “enigmático, fantástico e difícil de entender”: Eça de Queirós. Juntamente com Zefa, uma empregada nortenha, e Videirinha, Clara percorre várias obras de Eça de Queirós, tais como “Os Maias” e o “O Crime do Padre Amaro”, bem como “O Corcunda de Notre Dame” de Victor Hugo, “A Dama das Camélias” de Alexandre Dumas, entre outras obras de autores contemporâneos do escritor português.  

 A autora de “O Voo da Garça” reserva, habitualmente, parte das suas férias de Verão para a escrita dos guiões das peças que serão apresentadas no ano lectivo seguinte. Este ano não foi excepção: a referida professora, que faz um trabalho de pesquisa imprescindível à concepção das suas peças, iniciou a escrita de um guião que viu-se obrigado a estar guardado numa gaveta durante o presente ano. A explicação é simples: a encenadora só foi informada de que o Segundo Festival de Teatro teria um tema depois de “meter mãos à obra”. Esta diz que foi complicado começar do zero mas que está muito satisfeita com o resultado final. O facto de ser professora de português ajudou-a, de certa forma, a encontrar inspiração para escrever algo relacionado com Eça de Queirós. “O Voo da Garça”, que tem como suporte obras como as referidas anteriormente e também “A Tragédia da Rua das Flores”; “O Egipto”; “A Correspondência de Fradique Mendes” e “O Primo Basílio”, detém um título muito pessoal para a professora Lurdes Gual – quando tinha dezasseis anos, um professor disse-lhe que, se fosse um animal, seria uma garça, pelos seus belos e altos “voos”.

 Uma das motivações para ter escrito um guião cujo tema é o “amor pela visão dos realistas” foi querer mostrar ao público uma faceta de Eça de Queirós que não é abordada durante o estudo das obras. A professora deixa no ar a pergunta: terá sido apenas pelo facto deste escritor ser realista que escreveu obras com uma carga sexual elevada (inclusivamente sobre relações incestuosas ou adúlteras) ou será que teve alguma outra motivação, de índole pessoal?


Staff

 A concepção de uma peça de teatro não é só feita pela encenadora e pelos actores, muitas mais pessoas estão envolvidas e fazem um trabalho tão importante quanto todas as outras. Embora os figurinos sejam pensados pela encenadora, três costureiras trabalham na concepção dos mesmos.

 Outras duas professoras, Manuela Pinho e Teresa Margarida, estão encarregues da angariação de fundos e são, também, assistentes de palco.